domingo, 20 de abril de 2014

Já aconteceu com você?

Odeio sentar na cadeira do meu escritório de manhã. Na verdade, lá pras 9:00 fica pior porque um fio de luz bate bem nos meus olhos, já tentei mudar o cômodo de lugar, mas ele só fica bom naquele mesmo espaço. O meu problema é com o sol mesmo, maldito seja.
Escrevi aquele relatório todinho antes do fim do expediente, graças a deus. Deu tempo de checar algumas contas, algumas redes sociais. Minha tia me mandou uma mensagem no facebook, disse que estava com saudades e mandou eu avisar minha mãe que a torta de terça-feira estava muito boa. Olhei e li algumas baboseiras que já tinha visto outro dia, desci um pouco e vi que minha prima tinha colocado aparelho, coitada. Desci mais um pouco e curti a foto do cachorro da Karina, desci e li sobre a reprodução de babuínos, desci mais e... Parei. Era a foto dela. Muita luz, era o sol que batia na cara, não esse mesmo sol desgraçado que bate na minha agora, era um sol bem-vindo, diria que até celestial - Não sei muito o porquê desta palavra, mas sempre quis usá-la um dia, e se for pra usar, que seja falando dela. Mas de volta a sua fotografia; o vento levava seus cabelos para o rosto, e ela tentava tirá-los com a mão esquerda. Seu sorriso era encantador, suavizado, parece até que alguém a mandou sorrir pra foto e ela se encabulou. Era um lugar bonito, um campo ao ar livre, ela deve estar viajando com a família ou algo assim... Isso me lembrou uma história que um dia tivemos:
Íamos de carro e a viagem era longa, o rádio não estava funcionando direito então cantamos o caminho inteiro "blowin in the wind" e cantarolamos Yann Tiersen até sair da estrada. Chegamos sem saber onde ficaríamos e sem plano nenhum de trajeto, mas o plano era esse: "sem planos" - Ela que me disse isso. Já estava no fim da tarde e eu confesso que fiquei um pouco muito preocupado com isso de "sem planos", mas ela sempre me repetia: "Você tem que parar de ser desse jeito, sabia? O plano era a gente se divertir. Agora para de resmungar e me da um beijo... Pode ser?" Tinha como recusar? 
Ficamos rindo e nos amando durante horas sem preocupação nenhuma pelo menos eu tentei não aparentar, e quando a noite estava vindo decidimos acampar; sim, alí mesmo, naquele lugar. Ela me contou algumas "histórias horripilantes"- Era como ela chamava, mas eu só conseguia rir da sua voz de "fantasma malvado". Conversamos sobre assuntos bobos e "assuntos importantes e chatos", como família. Ela me disse algumas histórias de sua vida, como o seu novo chefe chato e seus contos inacabáveis sobre animais marinhos. Eu percebi que enquanto ela fala, costuma entortar a boca (o que eu acho engraçado). Decidimos dormir após seu primeiro bocejo, acordamos cedo e fizemos tudo de novo. Fomos felizes durante 3 dias. 
É, acho que seríamos felizes juntos. Poderíamos ter vivido isso e muitas outras coisas se ela ao menos soubesse que eu imagino tudo isso com uma única foto dela num campo, com um sorriso envergonhado, cabelo no rosto e sol na cara... Acho que se eu dissesse isso ela me chamaria de louco e psicopata. Sei lá... Isso já aconteceu com você? 







segunda-feira, 14 de abril de 2014

Diário do cícero.

Minha mãe sempre me dizia: "não confie em ninguém". Sempre obedeci.

Ontem;
O seu zé da padaria olhava para todos com sua cara rabugenta. As crianças da rua de cima viviam berrando e brigando umas com as outras. Dona Eulália, minha vizinha, vive reclamando do barulho que eu fazia quando arrastava os móveis da sala. Maria Antonieta nunca me deu bola. O meu cachorro latiu a noite toda. Sempre que chego em casa brigo com a minha irmã porque ela deixou a chave na porta. Meu professor não sabe nem o meu nome. Todos os dias alguém chora por algum amor perdido.

Hoje;
O seu zé da padaria sempre da comida para os mendigos que ficam na rua de casa. As crianças da rua de cima se encontram todos os dias porque elas brincam todos os dias. Dona Eulália, minha vizinha, me trouxe um pedaço de bolo no fim da tarde. Maria Antonieta me disse: "a gente podia sair um dia desses". O meu cachorro me demonstra amor todos os dias. Sempre que chego em casa dou um beijo na testa da minha irmã. Meu professor me deu 10 nesse semestre. Todos os dias alguém encontra o amor de sua vida.



Hoje eu vi beleza no mundo. Acho que é porque o mundo sempre teve beleza, só eu que não via.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Ela.

Ela ta aqui por um motivo. Assim, só um motivo mesmo. Ela quer dizer que apareceu aqui porque mudou. Eu não entendi bem, acho que é porque ela cortou o cabelo há alguns meses. Eu achei que ficou bonito, combinou com o formato do rosto, mas não acho que seja só pelo cabelo, naquele dia ela estava bem arrumada, disse que ia começar a andar assim de agora em diante. Eu não entendi bem, mas ela estava tão bonita que não me arrisquei em tentar compreender o motivo. Ela estava tão linda... Ah! Me disse também que sua vida melhorou, que aprendeu bastante, eu imaginei que tinha aprendido mesmo, afinal, ela já havia se formado e estava na sua primeira graduação. Isso me deixou meio confuso. Ela me disse que ainda não estava completa, eu imaginei que tinha sido por conta do cabelo que estava faltando na cabeça, eu amava os seus cabelos, mas ela estava tão bonita daquele jeito que achei melhor não imaginá-los novamente. Ela me disse que se sentia melhor sozinha, eu compreendi na hora, mas, pensando bem, quem é que se sente melhor sozinho?
Ela me disse que amar e ser amado não era tão bom quanto uma paixão platônica, pois com a paixão platônica você consegue amar todos os dias e sentir borboletas na barriga todos os dias. Eu ri. Enquanto ela falava, eu notei que ela estava usando batom (ela nunca tinha usado batom antes), era vermelho e ela estava linda. Ela me disse algumas baboseiras sobre história da arte e cantores burgueses que ficaram famosos com músicas na época da ditadura. Ela me falou que andou pensando muito em mim. Não lembro muito qual foi a minha cara quando ela me disse isso, mas deve ter sido engraçada, porque ela riu. Ela repetia muitas vezes que estava feliz, mas acho que era mentira, porque uma vez eu li em uma revista (aquelas de sala de espera com rostos de mulheres bonitas e famosas) que quando alguém repete muito que está feliz, é porque queria estar. Faz sentido pra mim. Ela me falou que estava pensando em viajar, conhecer novos lugares, e que o Brasil estava muito pequeno para ela. Bom, isso foi estranho pra mim, já que o Brasil é o quinto maior país do mundo. 
Por fim, ela se despediu. Foi um beijo no rosto, sabe, aqueles que todo mundo da. Não foi um beijo de carioca (eles geralmente dão um em cada bochecha), foi um beijo de paulista; um só, então ela virou as costas e partiu.

Ela é uma grande mentirosa. Me disse que havia mudado, mas ela estava linda como há 10 anos atrás.